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“Terricídio”, de Moira Millán, chega ao Brasil com manifesto pela vida e pela retomada ancestral

Obra escrita por liderança mapuche questiona destruição sistêmica da Terra e propõe uma revolução baseada na sabedoria dos Povos Indígenas

No centro do livro está o conceito de terricídio, que Millán define como a agressão contínua à ordem cósmica, um processo que ultrapassa o esgotamento dos ecossistemas e atinge também a espiritualidade, a memória e a identidade dos povos. A autora articula sua trajetória pessoal, da redescoberta de suas raízes à luta pelos territórios ancestrais no sul da Puelwillimapu, para mostrar como essas violências atravessam corpos, histórias e geografias.

Ao longo da narrativa, Moira denuncia o genocídio histórico e contemporâneo contra os Povos Indígenas, o avanço do extrativismo predatório, o racismo, a colonização cultural e a violência de gênero. Em contraponto, convoca uma revolução telúrica, uma retomada epistemológica que resgata a sabedoria dos Povos Telúricos e afirma o Bem-Viver como direito fundamental de todos os seres.

A edição brasileira traz contribuições, como a apresentação de Chirley Pankará, liderança indígena e parlamentar, e o prefácio da pesquisadora Sabrina Fernandes, que situam o conceito de terricídio no contexto latino-americano e reforçam a urgência da obra. A capa é assinada pela artivista amazônica TAI (@tai_yawara), enquanto as ilustrações internas são de Llanka Millán, artista mapuche e filha da autora, um gesto que integra memória, território e linhagem na própria estética do projeto.

Autora de El Tren del Olvido (2019) e prestes a lançar o romance Los Caminos del Cilantro, Moira Millán vive em território recuperado na Puelwillimapu, de onde segue articulando imaginários e resistências.