Com quase 20 anos de história, editora e livraria aposta em tiragens pequenas, curadoria independente e produção artesanal em Curitiba
Uma editora, uma livraria, um laboratório gráfico e um café. Localizada em Curitiba (PR), a Arte & Letra atua desde 2006 unindo diferentes frentes do mercado do livro sob um mesmo espaço físico e editorial. O modelo é uma alternativa aos grandes circuitos do setor, apostando em publicações de baixo volume, produção artesanal e curadoria própria.
As tiragens, de acordo com o editor Thiago Tizzot, ficam geralmente entre 150 e 200 exemplares. A decisão permite ajustar a produção à demanda e, quando necessário, imprimir novas rodadas. “Lançamos uma tradução do Dylan Thomas e, em menos de um mês, tivemos que imprimir a terceira tiragem”, relata. Entre os livros mais vendidos estão títulos de Virginia Woolf, que já ultrapassaram dois mil exemplares — número expressivo para uma editora independente com produção local.
Uma das particularidades da Arte & Letra é ter internalizado todo o processo de produção gráfica. O modelo permite não só escalas menores, mas também maior controle sobre acabamentos e formatos. “Isso dá uma liberdade muito grande. Podemos ajustar o projeto gráfico sem depender dos padrões de grandes gráficas”, explica Tizzot.
Desde 2017, a editora opera com um laboratório próprio equipado com uma impressora Riso, tecnologia de impressão por matriz, semelhante à serigrafia, bastante utilizada em publicações artesanais. A decisão surgiu da necessidade de driblar os altos custos das gráficas convencionais, que exigem tiragens grandes para viabilizar o preço unitário. “Se antes precisávamos fazer mil exemplares de um livro, hoje podemos fazer 200 de cinco títulos diferentes”, explica Thiago. O sistema permite, ainda, liberdade total de formato e acabamento, sem os custos extras comuns na indústria gráfica tradicional, como facas especiais para cortes fora do padrão. Segundo ele, essa autonomia torna possível testar livros em pequenas quantidades, observar a recepção e reimprimir rapidamente sempre que há demanda, algo pouco viável no modelo industrial.

O catálogo da Arte & Letra é formado por livros de literatura, ensaios e obras visuais, que vão de autores clássicos a contemporâneos, nacionais e estrangeiros. A seleção, de acordo com Tizzot, não segue critérios de tendência ou mercado. Essa lógica também orienta a livraria, que funciona com curadoria própria. “Eu escolho um a um os livros que vão para a estante. Não é uma seleção automática de catálogo, nem baseada nos mais vendidos”, diz. Essa proposta diferenciou o espaço logo nos primeiros anos de funcionamento. “De repente a gente era uma das livrarias mais legais da cidade”, conta.
O modelo artesanal e de escala reduzida, no entanto, não impede que os livros circulem fora do Paraná. Atualmente, os títulos da Arte & Letra estão presentes em livrarias de várias capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte. Parte desse crescimento se consolidou durante a pandemia de Covid-19. “É horrível dizer isso, mas a pandemia foi muito boa pra gente. Começamos a vender mais online e nossos livros passaram a circular em outras cidades”, reconhece Tizzot.
A média atual, segundo ele, é de 800 a 900 livros vendidos por mês, somando loja física, e-commerce e livrarias parceiras. A definição de “independente”, no entanto, é algo que Tizzot relativiza. “Eu sempre digo que há vários níveis de independência. As grandes editoras são dependentes dos best-sellers, da lógica do mercado, das redes de livraria. Eu posso tomar decisões diferentes, publicar o que eu acredito, mesmo que não venda tanto. Essa é a nossa margem de autonomia”.