A escritora Anna Martino, autora de Senhor tempo bom (Plutão) e Prosérpina (Madame Houdini), celebra um novo marco na carreira: a tradução de seu romance Fortunato Poeira para o farsi. O livro, lançado no Brasil em janeiro pela Editora Cachalote, alcançou leitores no Oriente Médio e ampliou o alcance internacional da literatura especulativa independente produzida no país.
Martino, que já teve textos publicados em revistas e coletâneas no Brasil e no exterior, além de trabalhos interpretados na Rádio BBC World, conta que a recepção por leitores tão distantes a surpreendeu. “Foi uma imensa surpresa ver como a história do Fortunato encontrou um público do outro lado do planeta. Para mim, isso prova que o roçapunk é um sentimento universal”, afirma a autora.
No romance, o protagonista Fortunato Poeira é um trecheiro, trabalhador itinerante que se desloca entre a Terra e uma estação espacial agrícola chamada Bertha Lutz. Quando Fortunato morre, sua ausência desencadeia uma disputa inesperada: seu amigo Antônio tenta organizar o funeral, mas a burocracia espacial impede a cremação antes que familiares sejam encontrados. A busca por esses parentes expõe uma rede de segredos, silenciamentos e negligências que marcaram a vida do trecheiro.
A trama tem a proposta de combinar os códigos da novela das 21h com ficção científica, em um registro que Anna Martino define como híbrido e popular. A tecnologia surge como cenário e o foco está nas relações humanas, na precarização do trabalho e na forma como comunidades constroem (ou apagam) a memória de seus mortos.